30.6.12



once i wanted to be the greatest
two fists of solid rock
with brains that could
explain any feeling









 The Greatest, Cat Power


10.6.12



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Geoff Mcfetridge

 lembra-te,

nunca andes de bicicleta quando:


1. estás vestida com uma linda saia branca assimétrica e esvoaçante que adoras, mesmo que a ideia da saia branca linda e esvoaçante com a bicla te soe a coisa mais bela de sempre. a saia não vai acabar bem, a sério que não.

2. olhas para o céu e vês um bloco gigante de nuvens farfalhudas e meio acinzentadas que não deixam passar o sol, e há qualquer coisa no teu cérebro que te diz, que lindo dia, não vai chover tão cedo, até porque vou sair agora de bicla e a viagem não é muito longa. isto é outra coisa que não vai acabar bem.

3. vais ao supermercado e pensas que vais trazer pouca coisa, mas a despensa está vazia. esta é que não acaba mesmo bem.



e por hoje chega de nuncas.




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 Os tímidos


A escrita dos escritores tímidos tem muito de semelhante com a arte de conversar aplicada aos tímidos sociais. A maior parte das vezes quer escrever, mas não consegue. Há sempre qualquer coisa que o impede, tal como a maior parte das vezes, junto das pessoas, quer falar, mas há sempre qualquer coisa que o impede. Essa qualquer coisa tem nome, é o medo inconsciente de falhar, de dizer mal, de se esmagar contra o olhar que nós julgamos sempre feroz e infinitamente mais inteligente do outro. O mesmo se aplica à escrita. O olhar do outro vive inconscientemente dentro do nosso olhar. E o outro abstracto é sempre um eu melhorado, um eu contra o qual nós nos sentimos incapazes de combater. Os tímidos vivem sob o pavor de falhar, colocam sobre as suas lindas cabecinhas as orelhas de burro da culpabilização: eu sou mau ainda antes de o ser e, por essa lógica, se o for ainda pior serei. Os tímidos são as pessoas mais prevenidas e poupadas de que há memória. Poupam os outros de si mesmos, poupam palavras, poupam gestos, estão sempre a poupar. E é triste. Porque os tímidos, ao contrário dos outros, consomem-se em pensamentos, têm uma teoria para tudo - este é também um mito que os tímidos alimentam para se sentirem um bocadinho melhor -, mas rezarão para a história como meros figurantes na fotografia, são os da mesa do canto, os que coram, os que desviam o olhar, os que não têm sentido de oportunidade na hora da palavra, os eternos não me lembro do nome. Calam-se, não escrevem, não concretizam. Mas todo o ser humano é um ser de palavras, é um ser que nasceu para dizer algo que mais ninguém poderá dizer. Por isso, de quando em vez, o tímido monta no curso do pensamento num pónei alado e abre as comportas das palavras com um facho que tudo ilumina. Conversa muito, até ao cansaço, brilham-lhe os olhos, escreve muito, até ao cansaço, brilham-lhe ainda mais os olhos, e curva-se sobre o teclado como raposa sobre cacho de uvas ou riacho fresco e um súbito sentimento de realização inunda-lhe as mãos, inunda-lhe a boca até naufragar de novo no silêncio, até se refugiar de novo no seu casaco invisível, na sua apatia de pato de borracha que a criança esquece no vórtice do banho. É uma merda ser tímida, meus queridos. Uma merda, vos digo. 


 Ana Salomé (daqui)

9.6.12









Lie thee down, The Middle East





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  De novo o mar que espero
sentada à janela que dá para as rosas.
Que dá para todas as ruas que passei
com os teus passos. Para a estrada
onde virámos a cabeça para não ver
o homem esvaído no chão.
Depois comemos na casa de um amigo,
bebemos e falámos como se a vida fosse eterna.
À volta a estrada estava limpa, sem sinais
de sangue. As luzes sobre o mar nas duas margens
e a tua mão na minha perna. Lá no céu
um homem esventrado procura as suas asas.
Nada sei de anjos. Eu que espero o mar todos os dias
acredito na rotação da terra e na lei da gravidade.
Mas quando chegas o corpo não tem peso
e as palavras voam em redor de nós
alagadas em suor. E vem o mar.


Rosa Alice Branco


1.6.12


o menino que continua a surpreender pela positiva 





I just started hating some people today, Beck