Onde estás, minha vida em câmara lenta,
janela toda aberta onde procuro
o vento, a luz da noite? Onde estarás,
melodia cantada a soluçar
numa cama de grades? Onde estás,
olhar dessas visões em sobressalto,
Casal da Bela Vista, velho pátio
ao som da bicicleta? Onde ficaste,
infinito terraço da Alameda,
varanda cor-de-rosa da Parede
com o sol a morrer sobre Cascais?
Onde estás, corredor de São FIlipe
praia do Monte Branco onde outro eu
se lançava da prancha? Onde estarão
os risos desses primos transparentes,
as lágrimas acesas transparentes,
as lágrimas acesas que brilhavam
como arco-íris de seda no meu rosto?
Onde ficou a última pergunta
em véspera de viagem? Onde estás
o mapa dessa alma que foi espuma,
o nó dessa garganta submersa?
Fernando Pinto do Amaral
Imagem: tih ana