13.6.07



É amargo o coração do poema.
A mão esquerda em cima desencadeia uma estrela,
em baixo a outra mão
mexe num charco branco. Feridas que abrem,
reabrem, cose-as a noite, recose-as
com linha incandescente. Amargo. O sangue nunca pára
de mão a mão salgada, entre os olhos,
nos alvéolos da boca.
O sangue que se move nas vozes magnificando
o escuro atrás das coisas,
os halos nas imagens de limalhas, os espaços ásperos
que escreves
entre os meteoros. Cose-te: brilhas
nas cicatrizes. Só essa mão que mexes
ao alto e a outra mão que brancamente
trabalha
nas superfícies centrífugas. Amargo, amargo. Em sangue e exercício
de elegância bárbara. Até que sentado ao meio
negro da obra morras
de luz compacta.
Numa radiação de hélio rebentes pela sombria
violência
dos núcleos loucos da alma.

Herberto Helder

Imagem: TroubleNight

6 comentários:

Joana disse...

Os poemas enchem me o coração e arrepiam me a pele....muito bom!!
beijooo

menina tóxica disse...

:))))*

Menina Limão disse...

lindo este post: o poema é fantástico e a imagem está muito bem escolhida. eu aqui às voltas com um auto-retrato e afinal era tão simples: my heart is in my mouth.

menina tóxica disse...

:))))

é sempre mais simples do que imaginamos.

**

Cometa 2000 disse...

helberto helder é realmente brilhante. a escolha do texto/imagem é excelente!

menina tóxica disse...

:))