22.10.07



Sou o único actor.
É difícil para uma mulher
interpretar uma peça inteira.
A peça é a minha vida,
o meu acto único.

O meu correr atrás das mãos
e nunca as apanhar
(as mãos não se vêem -
ou seja, estão nos bastidores)
Tudo o que faço em cena é correr,
correr para acompanhar
mas sem o conseguir.
-
De repente paro de correr.
(isto avança um bocado com o enredo)
Faço discursos, centenas,
todos orações, todos solilóquios.
Digo coisas absurdas como:
ovos não podem discutir com pedras,
ou, mantenham os vossos braços partidos dentro das mangas,
ou, estou aqui de pé mas a minha sombra está torta.
E tal e tal.
Muitos buhs. Muitos buhs.

Apesar disso eu continuo para as ultimas deixas:
Estar sem Deus é ser uma cobra
que quer engolir um elefante.
A cortina cai.
A assistência apressa-se a sair
foi uma má interpretação.
Porque sou o único actor
e há poucos humanos cujas vidas
farão uma peça interessante,
não concordam?


Anne Sexton
Tradução da
lebre. :)


Imagem: let it di

5 comentários:

Anónimo disse...

com um único actor, ainda assim a peça pode ser um muito tanto maravilhosa :) [como o poema, como a tradução]

ah, que bem que sabe estar de volta ao polvo :D

Ana disse...

F
A
N
T
Á
S
T
I
C
O
!


:O


!




*

menina tóxica disse...

:D

***

lebredoarrozal disse...

:) a anne sexton tem poemas brutais:)

é pena ser uma quase desconhecida.

menina tóxica disse...

eu conheci-a no teu cantinho :))))

e adoro as coisas dela. pelo menos o pouco que tenho encontrado.