Oh as casas as casas as casas
as casas nascem vivem e morrem
Enquanto vivas distinguem-se umas das outras
distinguem-se designadamente pelo cheiro
variam até de sala pra sala
As casas que eu fazia em pequeno
onde estarei eu hoje em pequeno?
Onde estarei aliás eu dos versos daqui a pouco?
Terei eu casa onde reter tudo isto
ou serei sempre somente esta instabilidade?
As casas essas parecem estáveis
mas são tão frágeis as pobres casas
Oh as casas as casas as casas
mudas testemunhas da vida
elas morrem não só ao ser demolidas
Elas morrem com a morte das pessoas
As casas de fora olham-nos pelas janelas
Não sabem nada de casas os construtores
os senhorios os procuradores
Os ricos vivem nos seus palácios
mas a casa dos pobres é todo o mundo
os pobres sim têm o conhecimento das casas
os pobres esses conhecem tudo
Eu amei as casas os recantos das casas
Visitei casas apalpei casas
Só as casas explicam que exista
uma palavra como intimidade
Sem casas não haveria ruas
as ruas onde passamos pelos outros
mas passamos principalmente por nós
Na casa nasci e hei-de morrer
na casa sofri convivi amei
na casa atravessei as estações
Respirei – ó vida simples problema de respiração
Oh as casas as casas as casas
Ruy Belo
Imagem: sexties
13.4.08
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6 comentários:
"a casa dos pobres é todo o mundo"......
tão LINDO este verso!
e eu q ando à procura de casa ;)
Ruy belo, sempre!
Beijinhos
olá dióxida de carbono. ou monóxida?
Deixo aqui o link para o meu novo blog de poesia, “uma só vida?...”
Vou postar por lá a minha poesia toda, entre 1995 e 2008
Acrescentei lá o teu link, estou a tentar juntar o máximo de blogs de poesia em português
ana, e aquele que me deram um dia:
para nascer pouca terra, para morrer toda a terra.
adivinha lá! :p
(lembrei-me)*
queen frog, eu já mudei de casas muitas vezes e por causa disso também gosto muito deste poema*
L., às vezes mono às vezes di, enfim. na maioria das vezes tóxica. não me vou esquecer de lá passar :)*
Vou surrupiar, posso?
Deixo a devida referência no meu espaço!
Beijinhos:)
claro que podes!
:)*
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