5.1.09

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Deitar-se algumas vezes nos sulcos
do sono da noite anterior,
reconhecendo como felino doméstico
o cheiro das nossas mantas. Não
lavar os dentes e sobretudo esquecer
de baixar as persianas. Coleccionar
pontas sucessivas de cigarros. Jornais
de muitos ontens e rimas
de livros lidos só três paginas. Não
endireitar a curva daquele candeeiro,
deixar as gavetas abertas
com colírios, comprimidos e roupas
à vista. Amontoar em cima da cómoda
brincos ímpares, perfumes sem tampa, pequenos espelhos
quebrados, alfinetes, cartas, rascunhos
e chávenas de chá servido há dias, deixar
calar-se o CD com os lieder de Schumann
afastando os sapatos de muitos caminhos
e a roupa de tantas horas.

Inês Lourenço

Imagem: equiv

5 comentários:

Ana disse...

Ai que bom foi cá voltar depois de umaprolongada e ilógica ausência!


E em plena fuga ao dever :)adicionando o facto de este post e poema serem uma boa imagem da minha vida presente.

Um beijinho polva

menina tóxica disse...

qual dever? o de vir aqui, sinhe menina camelinha?
é que polva não vive sem sua parceira das loucuras, camela ;)

muitos beijinhos*

HP disse...

essa foto fez-me lembrar a de um livrinho que tenho por casa do senhor Pedro Paixão... uma historia sobre paixões e polaroids e nova york...

beijinhos*

betânia liberato disse...

Ups... desculpa. Fui eu que comentei em cima. Estava a conta do meu patraozinho activa! :/

menina tóxica disse...

^^ não sou só eu a distraída.

já estive com esse livro na mão várias vezes, tentada a comprá-lo, para a próxima talvez :)