29.3.07

Love me love me love me
Say you do
Let me fly away
With you
For my love is like
The wind
And wild is the wind



28.3.07



Uma voz na pedra

Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha ebriedade é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.

António Ramos Rosa
Imagem: Ashley Wood

26.3.07

uma vez que já aprendemos a dançar, vamos agora aprender a cantar com este senhor aqui... (por volta do min 1:18 eheh)

Well he was Thailand based She was an airforce wife He used to fly weekends It was the easy life But then it turned around And he began to change She didn't wonder then She didn't think it strange But then he got a cal lHe had to leave that night He couldn't say too much But it would be alright He didn't need to pack They'd meet the next night He had a job to do Flying to Cambodia And as the nights passed by She tried to trace the past The way he used to look The way he used to laugh I guess she'll never know What got inside his soul She couldn't make it out Just couldn't take it all He had the saddest eyes The girl had ever seen He used to cry some nights As though he lived a dream Ans as she held him close He used to search her face As though she knew the truth Lost inside Cambodia But then a call came through They said he'd soon be home She had to pack a case And they would make a rendez-vous But now a year has not a single word And all the love she knew Has disappeared out in the haze Cambodia - Don't cry now - No tears now And now the years have passed With not a single word But there is only one thing left I know for sure She won't see his face again

25.3.07



Retrato Talvez Saudoso da Menina Insular

Tinha o tamanho da praia
o corpo era de areia.
E ele próprio era o início
do mar que o continuava.
Destino de água salgada
principiado na veia.

E quando as mãos se estenderam
a todo o seu comprimento
e quando os olhos desceram
a toda a sua fundura
teve o sinal que anuncia
o sonho da criatura.

Largou o sonho nos barcos
que dos seus dedos partiam
que dos seus dedos paisagens
países antecediam.

E quando o seu corpo se ergueu
Voltado para o desengano
só ficou tranquilidade
na linha daquele além.
Guardada na claridade
do olhar que a retém.

Natália Correia


(viva os sms ;)

23.3.07



22.3.07



'Tal como se tivesse um fim em vista, vou atravessar a sala até chegar à varanda por baixo do toldo. Vejo o céu, a que o luar confere uma aparência suave. Observo igualmente os contornos da praça e os dois indivíduos sem rosto que recortam como estátuas contra o firmamento. Trata-se, pois, de um mundo imune a mudanças. Ao passar por esta sala repleta de línguas que me cortam como se fossem facas, fazendo-me gaguejar, levando-me a mentir, encontrei rostos sem feições, despojados de beleza. Os casais de namorados ocultam-se entre as árvores. O polícia está de sentinela a uma esquina. Um homem passa. Trata-se de um mundo imune a mudanças. Todavia, ainda não me recompus o suficiente, apoiada em bicos de pés junto à lareira, afogueada devido ao ar quente, com medo que a porta se abra e o tigre salte, com medo até de formar uma frase. Tudo o que digo está sujeito a ser permanentemente contrariado. Sou interrompida de cada vez que a porta se abre. Ainda não fiz os vinte e um. Estou destinada a ser despedaçada. Estou destinada ao ridículo. Estou destinada a vogar ao sabor das línguas de todos estes homens e mulheres de rostos contraídos, tal como se fosse um pedaço de cortiça a boiar num mar encapelado. Semelhantre a uma alga, sou atirada para longe de cada vez que a porta se abre. Sou a espuma que cobre de branco os contornos das rochas, até mesmo os mais recônditos; aqui, nesta sala, também sou uma rapariga.'

Virginia Woolf, in As Ondas

21.3.07

... e pela poesia



Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

Mário Cesariny

contra o dia mundial do sono



Imagem: Ethos

20.3.07

You turn around and life's passed you by. Passed you by again.



19.3.07


Como se o Mar apartando-se
Mostrasse um outro Mar -
E esse - um outro - e dos Três
Apenas se pudesse suspeitar -

De sucessões de Mares -
Adversos à Costa -
Eles próprios a Margem de Mares por ser -
A Eternidade - é Isso -

Emily Dickinson, in Esta é a Minha Carta ao Mundo e Outros Poemas
Imagem: Ariana Coutinho

17.3.07



I don't write music for Sony. I write it for the people who are screaming down the road crying to a full-blast stereo (...)

Jeff Buckley

este senhor sabia das coisas...




We know a place where no planes go
We know a place where no ships go
No cars go!
No cars go!
where we know
We know a place where no spaceships go
We know a place where no subs go
No cars go!
No cars go!

where we know
Us kids know!
No cars go!
Between the click of the light
and the start of the dream.
Between the click of the light
and the start of the dream.

Between the click of the light
and the start of the dream.


arcade fire, no cars go
Imagem: Banksy



De qualquer forma, sozinhos estamos sempre.

11.3.07



Procura a maravilha.
Onde um beijo sabe a barcos e bruma.
No brilho redondo e jovem dos joelhos.
Na noite inclinada de melancolia.
Procura.
Procura a maravilha.

Eugénio de Andrade
Imagem: Calum Colvin

nas horas...

10.3.07

...I'll have candy all the time



7.3.07



Encontros cefalopodianos:
todos deveriam ter na sua vida um Senhor Calvero.

5.3.07



A poesia não está somente nos versos, por vezes ela está no coração, e é tamanha, a ponto de não caber nas palavras.
Jorge Amado, in O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá

3.3.07

i can see a lot of life in you





(...) Vá, vá! Para pôr um termo, tentar pôr um termo, a esta condição, voltei ao banco, ao anoitecer, à hora em que ela costumava vir ter comigo. Não havia sinal dela e esperei em vão. Já era Dezembro, ou até Janeiro, e estava o frio próprio da estação, quer dizer, muito bem, muito certo, perfeito, como tudo o que é próprio da estação. Mas uma coisa é a hora do relógio, e outra a do ar e do céu que mudam, e outra ainda a do coração.

Samuel Beckett, in Primeiro amor

2.3.07



Iremos juntos sozinhos pela areia
Embalados no dia
Colhendo as algas roxas e os corais
Que na praia deixou a maré cheia.

As palavras que disseres e que eu disser
Serão somente as palavras que há nas coisas
Virás comigo desumanamente
Como vêm as ondas com o vento.

O belo dia liso como um linho
Interminável será sem um defeito
Cheio de imagens e conhecimento.

Sophia de Mello Breyner Andresen
in Antologia Mar

1.3.07